Na Carolina do Norte-EUA, a população que mora no entorno do Burroughs Wellcome decidiu se mobilizar para impedir a demolição do edifício. O novo dono do empreendimento pretendia colocá-lo abaixo dia 4 de setembro, mas teve que recuar diante dos protestos. O prédio é um símbolo da arquitetura brutalista de Paul Rudolph, nascido no estado norte-americano e que morreu em 1997.
Inaugurado em 1972, o Burroughs Wellcome é todo em concreto aparente, com destaque para a textura com agregado fino de calcário. Além de ter sido projetado por um dos arquitetos mais representativos dos Estados Unidos, o edifício também tem ligação com a história da saúde mundial e do cinema. Ele pertencia à farmacêutica que descobriu o AZT – medicamento para o tratamento de aids – e em 1983 serviu de cenário para o filme de ficção científica “Projeto Brainstorm”.

Burroughs Wellcome: agregado fino de calcário dá textura especial ao concreto aparente usado no prédio de quase 50 anos
Crédito: Foundation Paul Rudolph
A edificação tem 1.143 m2 e a licença para a demolição foi conseguida pelo novo proprietário do prédio – a empresa de biotecnologia United Therapeutics – por causa do excesso de amianto no revestimento do piso e do teto do Burroughs Wellcome. Atualmente, materiais de construção com amianto estão banidos dos Estados Unidos e qualquer obra antiga que possua o elemento precisa se livrar dele sob pena de multas milionárias.
Engenheiros civis e arquitetos de grupos de preservação arquitetônica nos Estados Unidos se reuniram para apresentar soluções que permitam ao Burroughs Wellcome passar por um retrofit, livrando-o da demolição. Como o prédio é propriedade privada, a legislação da Carolina do Norte não permite que ele possa ser reconhecido como patrimônio cultural. Essa é uma prerrogativa apenas de edificações públicas no estado.
No Brasil, principal representante da arquitetura brutalista é Oscar Niemeyer
O Burroughs Wellcome, juntamente com o prédio da Escola de Arquitetura e Arte da Universidade de Yale – também nos Estados Unidos -, está entre as duas obras mais representativas de Paul Rudolph. Formado no Instituto Politécnico do Alabama, e com especialização na Escola de Design de Harvard, o arquiteto foi seguidor de Walter Gropius, que se formou na escola de arte vanguardista da Alemanha, a Staatliches Bauhaus – berço da arquitetura brutalista.
O movimento brutalista surgiu entre os anos 1950 e 1960. O propósito original era tornar o projeto e a construção mais baratos e acessíveis à população. O conceito que prevalece até hoje é deixar exposta a parte estrutural das edificações feitas em concreto armado, principalmente vigas e pilares. Daí o termo concreto aparente. No Brasil, o principal representante dessa escola é Oscar Niemeyer, com mais de 500 obras espalhadas pelo mundo.
Já Paul Rudolph usou a arquitetura brutalista principalmente na construção de residências, edifícios públicos e prédios de universidades. Além dos Estados Unidos, ele tem um volume grande de projetos assinados em Cingapura.
Entrevistado
Fundação Paul Rudolph (via assessoria de imprensa)